quinta-feira, 11 de março de 2010

Ontem descobri que a Cora Coralina escreveu o primeiro livro dela aos setenta e cinco anos. Que maravilha!

Quem me contou foi Elisa Lucinda. Li no blog dela, http://www.escolalucinda.com.br/, e ela pediu que eu contasse o que li, mas com minhas palavras. Claro, só podia ser. Afinal, como a própria Elisa me ensinou, sou a boca, sou a “dona da palavra sem dono de tanto dono que ela tem”. E levo a sério os ensinamentos da Elisa, ela é mestra em ensinar outra visão do cotidiano, ou fazer a gente enxergar a que já tem e não via.

Hoje não é um dia de pensamentos conexos. Isso até fica bem no contexto ordinário do Contrário Senso, mas, como já disse, gosto de fazer sentido, só que em outra direção. Talvez isso se deva ao fato de eu nunca ter conseguido encontrar sentido em seguir qualquer coisa sem questionar. Não dá para entender como isso vira senso comum e o razoável, que deveria ser o ordinário, termina por virar extraordinário. Sabe como é?

Esse modo uniforme de agir, fazendo tudo sempre tão igual e repetido me cansa e me causa tédio. Mas o que é pior nisso é a feiúra. Será que não se percebe que não é bonito ser feio? Tem gente que acha bonito ser feio. Pára com isso! O bonito é tão bonito.

A gente nasce com potencial para ser único e ao longo da vida vai aprendendo a ser indivíduo, aquela coisa que é parte de um todo, e para tanto tem que abrir mão do muito que é e acaba virando nada, mas o Johann Kaspar Schmidt explica isso melhor.

Há seres que não passam de um punhado de músculo, silicone, água oxigenada, formol e botox, que têm certeza que escola se escreve com i. E há muitos deles, pois desde que o primeiro da linhagem, por assim dizer, fez sucesso os sem discernimento acreditaram que repetindo a receita também sairiam do anonimato. Fizeram isso desassisadamente, sem saber que é melhor ficar no anonimato do que cair no ridículo.

Há os que repetem felizes: “Tudo o que é perfeito a gente pega pelo braço, joga lá no meio, mete em cima, mete embaixo. Depois de nove meses você vê o resultado”. Como se fosse natural e alegre cantar o estupro. Não foi, não é e nunca será, mas tem gente que canta e acha bonito. Não pensa para cantar. Não pensa para nada.

Há os que votam naqueles programas de TV que encarceram pessoas que se deixam encarcerar (umas até brigam por isso) em uma casa, uma fazenda, uma ilha. Programas feitos com vistas a angariar audiência e dinheiro e de lambuja levam espíritos, impedindo, assim, que seus corpos e cérebros se exercitem para além do necessário.

Há os que propagam e banalizam a violência, impregnando tanto as pessoas a ponto de tirar delas o poder de indignar-se, que é justamente a força que poderia mudar o curso das coisas.

Não, isso não me agrada.. Não gosto de gente que não pensa. Sei que pensar dói. E não é daquelas dores que só doem no começo e depois acostuma-se. Pensar dói para sempre. Quanto mais pensamos mais nos afastamos da autoridade imposta pelos conceitos vazios. Quanta angústia em ver as presas das autoridades falsas, todas sem identidade e sem vontade de resgatá-la.

Quando pensamos tudo dentro de nós se mexe. Se a terra pensasse tremeria por dentro, devastando por fora. Às vezes até acho que ela, a Terra, pensa. Mas a gente, o homem, tem que pensar, tem que devastar, tem que provocar, sob pena de trilhar caminho que não é seu. O que, pensando bem, é impensável.

Setenta e cinco anos. Que idade linda para começar a escrever livros!

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