quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

A maternidade me faz feliz. Não é loucura, é opção


Outro dia vivi uma situação que me fez parar um pouco para pensar.
Na ocasião vivida uma amiga me disse:
“_Você é doida de pensar em ter outro filho! Sua filha já está grande. Olhe à sua volta, todas as mulheres estão ocupadas com seus filhos e você está à toa”.
Sempre fico um pouco incomodada com essa mania, horrível, de me chamar de doida. É verdade, eu ajo e penso diferente do ordinário. Fui assim a minha vida toda e é assim que gosto de ser. Não é loucura, é opção.
É preciso parar com essa mania, chata a propósito, de achar que todo mundo que pensa diferente da gente é doido. Num mundo diverso, globalizado e enorme como o nosso não cabe mais esse tipo de avaliação absolutamente equivocada, na forma mais amena possível de tratar o tema.
Depois das experiências que temos com todos os humanos diferentes, que à sua época eram chamados de doidos, mas que entraram para a história e que até hoje nos servem de referência isso já devia ter sido superado. Não foi. Tem gente que adora se agarrar ao tédio.
Bom, pulando essa parte, o que me colocou cismada mesmo foi o que se referia a estar à toa enquanto todas as mulheres estavam ocupadas com seus filhos.
Pensei na minha vida antes de ser mãe. Eu tinha tempo para estudar, viajar, namorar, ir ao shopping, ir a festas, fazer nada, trabalhar feito doida, enfim, fazer qualquer coisa que quisesse. Parecia tudo muito perfeito, bom e bem ajustado.
Mas quis a vida me conceder a graça da maternidade e toda minha existência mudou.
Agora havia um ser crescendo dentro de mim, vivendo de mim, que era eu, mas era outro.
Um fenômeno estupendo e emocionante. Da gestação ao nascimento.
Da Sofia em diante eu não estava mais só e alguém, realmente, precisa de mim.
Saber que ela se alimentava de mim enquanto crescia fez de mim outra pessoa. Desde que ela foi concebida, tenho, pelo menos, uma razão por dia para comemorar e agradecer. Essas razões são tesouros que tenho comigo para sempre.
A primeira vez que a vi me provocou uma emoção indescritível. Poder alimentá-la simplesmente não tem explicação.
Que perfeição o primeiro sorriso! Meu coração ficava cheio cada vez que ela mostrava a gengiva e a força desse sorriso era tão grande que ainda agora, ao lembrar, meu coração se enche de novo. Plenitude mesmo.
O despontar do primeiro dente e ela me mordendo desesperada como quem diz:
“-Mamãe, ta coçando. Socorro”.
E eu, feliz, pensava:
- Morde Filhota, já vai passar a coceira e mamãe adora ser seu coçador (acabei de inventar) de gengiva.
Tudo nela me inspirava, inspira amor.
Que tempo precioso o gasto com os banhos na banheira quentinha e cheirosa de neném!
A “confusinha”, porque ela era pequena demais para fazer confusão, com brinquedos de borracha que ganhavam vida tão logo ela entrava na água. Aliás, tudo ganhou vida depois que ela nasceu.
Seu tamanho foi mudando e a “piquinúcula-minúcula” mãozinha foi se transformando numa pequena mão capaz de me fazer o melhor carinho que eu jamais recebi.
Um belo dia ela realizou que papai e mamãe estavam fora dela. Só quem vive isso pode entender.
Sua fala se desenvolveu rápido e o vocabulário certinho e bem usado sempre causa espécie.
Mas não faltou a ela o vocabulário infantil. Feliza quaquá. Vião, vião, vião! Onticom, vôler, louve... Enfim, como eu disse, uma razão por dia para festejar
Minha filha nunca me ocupou, nunca me deu trabalho, nunca me atrapalhou. Qualquer tempo com ela é uma dádiva. Ser seu alimento, ouvir seus primeiros sons, ver seus primeiros passos... Tudo dádiva.
Olhar para ela e saber que ela saiu de mim me faz pensar que a vida, a natureza, o universo ou um Deus, se houver, gostam tanto de mim e me acham tão especial que me proporcionaram a alegria de ver sair de mim Sofia, mas não só. Posso vê-la crescer e compartilhar tudo com ela. Tenho uma parceira de vida, de shopping, de cinema, de sorvete. Uma companheira.
Sou a mãe de uma maravilha! Minha filha é uma maravilha.
Nada do mundo é capaz de descrever o amor profundo que eu sinto por ela e esse sentimento é maior a cada e sempre será assim.
Por isso, o desejo de ter outro filho. A maternidade me faz feliz.
Claro que não sobra muito tempo para ficar conversando sobre a nova bolsa X ou o novo sapato do estilista Y. Mas isso está longe de ser significativo como é a mão da minha filha dentro da minha.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Na fogueira das superficialidades queimam vaidades fermentadas por egos distorcidos, ids inconformados e alteregos sem adjetivo.

Minha avó tinha olhos cinzas. Nunca vi olhos iguais, não era só a cor, eram os olhos. Indecifráveis. Nunca soube ao certo o que ia por dentro da mente dela. Tão afastada da minha por uma geração e ao mesmo tempo tão perto. Minha avó foi a mãe que tive. Cresci ouvindo suas canções. “Vento que balança as palhas do coqueiro.” “Meu amor, esse teu corpo parece, do jeito que ele me esquece, um amendoim torradinho.” “Ontem alguém pôs a rodar um disco de Gardel no apartamento junto ao meu, que tristeza meu deu.” “Babaluuu.” “ Quando vinvim contou, corri pra ver você, atrás da serra o sol tava pra se esconder, quando você partiu eu não esqueço mais, meu coração amor, partiu atrás.”
Ela partiu, eu não esqueço. Confesso que gostaria de ter desfrutado mais de sua companhia, de ter bebido mais da fonte de sabedoria que ela era. Gostaria de ter ouvido mais canções na voz dela.
Minha avó não sabia ler, mas tinha vontade de aprender. Ela gostava de rezar e sabia muitas orações. Eu lia, ela ouvia e decorava. Nunca decorei nenhuma. Já madura foi alfabetizada, lia e escrevia, mas essa não era sua maior inclinação. Ela gostava dos filhos, dos netos, da casa e todos juntos em volta dela e nisso era boa.
Naqueles olhos queimavam lâmpadas de sabedoria. Uma sabedoria quase impossível face às diversidades vividas na ordinária, porém singular, estrada que ela trilhou, muito pela força das circunstâncias e muito mais pela força de caráter que tinha. A vida de todos nós é muito diferente e muito igual. Os sentimentos humanos são finitos, a forma de sentir é que muda. Quem nunca se identificou com um relato?
Minha avó vivia bem. Vida abastada, marido, filhos, boa casa, empregados. O marido a traiu com uma vizinha. Naquele tempo ela deveria se resignar. Era o que a sociedade esperava dela. Aceitar e continuar vivendo sua vida abastada e aparentemente feliz. Ela não aceitou. Mudou de cidade, com umas poucas roupas e os filhos, sete ao todo. Vendia marmitas aos candangos que estavam construindo Brasília. Colocou os filhos na Universidade Federal e formou todos que quiseram. Sua sabedoria nunca os forçou a nada, mas ensinou-os a escolher. E quando escolhiam errado ela estava presente para socorrê-los. Não está mais. Faz falta, mesmo depois de ter criado e encaminhado os filhos na vida, como a sociedade espera que seja. A sociedade, de ids inconformados, que atira pedra em quem se recusa a aceitar uma indignidade, abandona quase tudo e parte para começar do zero, é a mesma, de alteregos desqualificados, que aplaude quem consegue o feito.
Ela só voltou à cidade outrora deixada para enterrar meu avô. A mulher que ele escolheu não tinha forças, nem recursos. Não quis nada do que ele deixou, os filhos tampouco, vivem todos muito bem.
Minha avó, sem saber, me ensinou a buscar além da superfície, buscar o que não se pode ver a olho nu. Não sei como, mas ela me ajudou a equilibrar meus eus, meu ego, meu id, meu alterego. Na ausência dela, estão todos aqui quando preciso.
Vivo no mundo das coisas rasas desfiladas como se profundas fossem. Da filosofia de boteco alardeada como último paradigma no mundo da ciência. “Três bichos não sentem frio: urso polar, pingüim e piriguete” Profundo. ... Engraçado também. Mas totalmente equivocado. Ursos polares e pingüins sentem frio e infelizmente, aqueles estão em extinção e, dentre esses, algumas espécies também. O terceiro bicho nem bicho é e, também infelizmente, não está em extinção e, pior e avassalador, tivesse que escolher entre a indignidade e o inconformismo não teria dúvida, aliás já escolheu há tempos.
O sentimento de repulsa que tenho pelos seres indignos, óbvios, vaidosos e superficiais é inversamente proporcional à admiração que tenho pela minha avó. Seu nome? Antônia. O que significa? Amiga inestimável..

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Sobre ir ao cinema

Outro dia falávamos de tolerância e de quanto é importante aceitar bem diferenças para conviver melhor no mundo globalizado que vivemos.
Vários temas surgiram. Cinema, música, idiomas, bailes funks, homossexualismo, e por aí vai.

Embora me sinta uma cidadã deste tempo, muito mais do que uma cidadã deste solo, confesso que tenho minhas birras em relação a algumas coisas. Explico.

Não tenho ido ao cinema. Embora ame a sétima arte, tenho razões de sobra para evitar. Ir ao cinema aqui em Brasília tem sido cada vez mais complexo.

Logo no estacionamento, que vem imediatamente após o engarrafamento para entrar lá, já se inicia uma guerra por vaga. As pessoas parecem possuídas. Quando o assunto é procurar vaga.... Minha gente! Todos dão vazão ao seu Dark Side Of The Moon Dart Vader Carie A Estranha Alien O Oitavo Passageiro.

Carai véi! (linguajar que combina bem com essa confusão). Que coisa humana, mundana, suburbana. Chega a ser detestável.

Continuando. Ai a gente estaciona. Uhuu! Que tudo! Coisa chique conseguir uma vaga. Parece coisa de britânico, seja lá o que isso for. Bom, então você pega o elevador e chega ao andar do cinema. Fom... Fila quilométrica. Aqui você usa seu auto-controle para não falar um palavrão.

Nesse momento, aproveitando o clima cinéfilo, você pensa no filme da sua vida e se pergunta: - "O que é que eu estou fazendo aqui? Só que esse já é o filme III - A Re-missão, porque você já vinha se perguntando isso desde o engarrafamento. Mas como você está de bom humor, hoje é sexta, deu tudo certo durante o dia, amanhã é sábado, você insiste e enfrenta a fila do ingresso e depois a da pipoca, afinal quem quer fazer dieta na hora do filme?

É melhor ir ao banheiro antes de entrar para não interromper o filme de ninguém e nem o seu, claro, durante a exibição. Em outras palavras, mais fila.
Então você entra na sala. Todo mundo misturado, os que querem apenas se divertir, relaxar um pouco e se entreter com uma história legal e, junto com esses, aquela galera. Aquela sabe? Mal educada, espaçosa, inconveniente, barulhenta, que chuta sua cadeira, enfim, sem noção nenhuma de nada.

É de lascar... Seu esforço por um programa legal vai por água abaixo. O humor termina antes do filme começar e o filme acaba virando um lixo, mesmo sendo digno de Oscar.
Nessa hora você lembra como é fácil e cômodo alugar um filme e ver em casa.Afinal todo britânico que se preza tem TV Full HD com tela quase cinematográfica na sala de casa.

Moral da história é que da próxima vez não haverá próxima vez.Até porque saber se comportar não está intimamente ligado a procurar de livre e espontânea vontade a oportunidade perfeita para mostrar como você é flexível e tolerante com as diferenças.

Esse negócio de massa, e o gosto dela, é muito bacana, bonito, poético até, mas em tratado sociológico. Freqüentar o mesmo espaço, propriamente dito, é completamente estressante para quem não curte as mesmas coisas. Eu num baile funk? Pode até ser, mas em outra vida. Nessa não.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Dos conceitos prévios

Dos conceitos prévios


Uma das formas da aprender é experimentando. A angústia que precede as notícias que sabemos que receberemos, mas das quais desconhecemos o conteúdo assemelha-se a um soco na boca do estômago.
Fisicamente falando, nunca tomei um, mas já tomei vários, não falando fisicamente. Ela se parece também com aquela que experimentamos em relação ao que não conhecemos. E a angústia é tanta e tal que se criou, inclusive, uma vida após a morte, talvez na esperança de que tal ilusão facilitasse o ter que lidar com esse mistério químico. Num instante estamos vivos e no instante seguinte... Nada. Sem encontrar explicação física, Deus foi chamado a nos ajudar a carregar o fardo, pois foi, ainda é, insuportável para os humanos pensarem-se sós no universo.

Ainda gasto fosfato com o físico e o metafísico. Digo ainda porque não estou bem certa se deveria ter desistido ou não. Enquanto não encontramos respostas seguimos buscando, dentro e fora de nós, até que as que estão fora entrem e comecem a fazer parte do que nos pertence, tanto e de tal modo que vira nosso. Depois de nosso colocamos no baú e quando queremos respostas reviramos tudo lá dentro tentando achar uma. Às vezes não está lá, mas é bom e confortável quando está. Quanto maior o baú das experiências menos angústias sentimos, ou pelo menos assim deveria ser. As coisas vividas fazem com que ganhemos a capacidade de não nos importar tanto com aquilo que não importa, em outras palavras, diminuem a angústia. Mas há o baú de perguntas e esse só aumenta a angústia. Os dois baús crescem com o tempo, o de conhecimentos e experiências e, na mesma proporção, o de perguntas. É nosso paradoxo, perguntar mais quanto mais se sabe.

Nietzsche disse: “Deus está morto”. Como se fosse possível algo não físico morrer. Acho que ele queria dizer que o homem havia encontrado respostas fora da transcendência de Deus para suas angústias. Havia acordado para dentro dele mesmo e isso o ajudava a achar suas respostas no próprio baú. Entenderam de outro modo. Cada um usa seus próprios preconceitos para interpretar o que ouve. Assim funciona o mecanismo da palavra expressa. Ela não volta para a boca e, depois de dita, quem a ouve pode entender e repetir como quiser. Pode dar confusão. Normalmente dá. É humano, demasiado humano.

Deus do alto de sua divindade, essa também humana, não resistiu e disse: “Nietzsche está morto”. Fato. O corpo morreu, mas Nietzsche não. Morre a carne ficam as palavras. O que reforça a tese de que estamos também no que dizemos. Volto a insistir, palavra é vida, seja a de Deus, seja a humana. Uma coisa que me intriga é porque Deus em pessoa nunca falou comigo. O mais provável é que talvez ele não queira que eu acredite nele. Não sei se obedeço... É o meu paradoxo.

O morto, se é que morto fala, não queria interromper o diálogo e disse: “Nietzsche é Deus.”
Os viventes gostam de falar. Falam tanto que colocam palavras na boca dos mortos. O que para eles não faz a menor diferença. O problema está quando colocam palavras na boca dos vivos. Aí começam os mal-entendidos, por isso não se deve usar a palavra levianamente.

...

A angústia veio antes de Deus que foi criado, precisamente, com vistas a diminuí-la.
A filosofia é feita e refeita, precisamente, para buscar respostas às angustiantes perguntas sem respostas. Tanta palavra dita e permanece a angústia. Nem Deus, nem Nietzsche, ambos enganados e vivos. E como!

quarta-feira, 24 de março de 2010

Calcinha é pano

No dia que a Jade me disse essa frase eu fiquei pensando: “Nossa, isso nunca me ocorreu!”
E assim, como não havia me ocorrido antes, também não deve ocorrer a tantas outras pessoas.
Na faculdade eu tinha um professor que repetia um professor dele dizendo que “o óbvio gritante depende do grau de surdez do interlocutor”. Fato.
Enfim, calcinha é pano, mas tem gente que acha que calcinha é qualquer coisa, tudo o que o imaginário pode criar, mas pano? Pano não.
Certa feita uma atriz global apareceu em um evento sem calcinha e deixou à mostra muito mais do que o tal pano. E na semana seguinte, ou seguintes, esse foi o assunto de toda roda.
Um ex-presidente do Brasil por pouco não foi banido do planeta porque uma modelo (ou algo assim) apareceu ao lado dele no carnaval, também sem o pano.
Os jornais do mundo todo caíram matando no pobre homem, presidente, é fato, mas solteiro, e certamente vestido em sua cueca. Felizmente o mundo dá voltas e um membro do parlamento inglês foi encontrado morto por asfixia no seu apartamento vestido de calcinha e cinta liga logo depois do ocorrido.
No mesmo período o presidente dos Estados Unidos da época também foi motivo de escândalo envolvendo o tal pano o que nos leva a concluir que tão pouco pano dá pano pra manga.
Mas não vamos fazer muitas digressões, até porque de calcinha eu, como usuária, ainda que eventualmente prefira não usar, entendo, e como entendo.
Existem vários tipos dessa peça.
Há aquelas que carinhosamente chamo de calcinha de coar café, porque é exatamente com isso que elas se parecem e quem me ensinou essa definição foi minha professora de artes sensuais. Isso mesmo, já tive uma.
A mulher passa anos usando a tal peça e um dia se vê perguntando: “Porque meu marido me pediu o divórcio?” Pois é, minha gente, calcinha não é só pano. Na verdade até pode ser, mas tem que ser O pano.
Tem as super sexy, essas assustam um pouco os menos avisados. Ainda nesse campo há os que acham que elas estão reservadas apenas aos momentos de intimidade, sem considerar que uma mulher tem todo direito de estar sexy apenas para se sentir sexy, não para mostrar a quem quer que seja.
Há aquelas de estimação, normalmente são só panos mesmo, panos feios, furados e cheios de bolinha, que algumas mulheres fazem questão de manter na gaveta quase como uma peça de antiquário. Bom... Cada um é cada qual.
Mas o pano que dá mais pano para manga é de longe a calcinha da bailarina de dança do ventre. E como dá.
Ô gente, sem assunto, que obriga quem tem assunto, e muito, a se manifestar a respeito da coisa porque o bafafá é grande.
Em um festival da Luxor a convidada egípcia deixou aparecer a calcinha dourada e pequena, como se deve, vale salientar. Com aquela calcinha não seria possível coar um café.
No dia seguinte a calcinha da moça era tema. Um falatório chato. Certamente provocado por aquelas que preferem usar as de estimação.
Não me contive e soltei: “Gente, calcinha é pano. Eu fui ver a dança, vi e amei, quem foi ver calcinha viu, não amou e perdeu a dança que foi linda”
Jade e eu, em uma ocasião, dançamos no Rio e todo mundo jura que ela estava sem calcinha e que deu para ver tudo, tudo que não era pano. Outra situação lamentável. Ela estava usando calcinha, mas também não era de coar café. Minha amiga tem bom senso. Uma bailarina de dança do ventre usando calcinha de freira é no mínimo, patético, mas há quem use, goste e saia falando de quem usa o adequado.
Bom, para resumir a ópera, o que deve de fato ser feito é tomar-se todo cuidado para que não apareça, mas se aparecer seu dia não pode acabar por isso e nem as pessoas passarão a ter direito de rotular você de isso ou de aquilo só porque o pano apareceu e não devia.
Há assuntos sérios no mundo que precisam ser revistos, discutidos e modificados e enquanto houver gente se ocupando da calcinha dos outros para preencher o tempo inútil que possui vamos continuar reinventando a roda todo dia.
Sei que conselho não se dá, porque se fosse bom mesmo nós o venderíamos, então vou dar uma dica.
Quando for ver uma dança preste atenção na dança, quem sabe com alguma sorte você acaba vendo a calcinha da bailarina e assim chega tão perto de uma diva quanto é possível a um mortal comum chegar. Se a diva é você use uma saia fechada (que eu não gosto muito, mas há quem aprecie) ou um short, assim você mantém a distância que uma diva deve manter dos mortais comuns. E não vamos mais dar pano para manga, afinal, calcinha é pano, mas é um pano especial... Pelo menos alguns.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Ontem descobri que a Cora Coralina escreveu o primeiro livro dela aos setenta e cinco anos. Que maravilha!

Quem me contou foi Elisa Lucinda. Li no blog dela, http://www.escolalucinda.com.br/, e ela pediu que eu contasse o que li, mas com minhas palavras. Claro, só podia ser. Afinal, como a própria Elisa me ensinou, sou a boca, sou a “dona da palavra sem dono de tanto dono que ela tem”. E levo a sério os ensinamentos da Elisa, ela é mestra em ensinar outra visão do cotidiano, ou fazer a gente enxergar a que já tem e não via.

Hoje não é um dia de pensamentos conexos. Isso até fica bem no contexto ordinário do Contrário Senso, mas, como já disse, gosto de fazer sentido, só que em outra direção. Talvez isso se deva ao fato de eu nunca ter conseguido encontrar sentido em seguir qualquer coisa sem questionar. Não dá para entender como isso vira senso comum e o razoável, que deveria ser o ordinário, termina por virar extraordinário. Sabe como é?

Esse modo uniforme de agir, fazendo tudo sempre tão igual e repetido me cansa e me causa tédio. Mas o que é pior nisso é a feiúra. Será que não se percebe que não é bonito ser feio? Tem gente que acha bonito ser feio. Pára com isso! O bonito é tão bonito.

A gente nasce com potencial para ser único e ao longo da vida vai aprendendo a ser indivíduo, aquela coisa que é parte de um todo, e para tanto tem que abrir mão do muito que é e acaba virando nada, mas o Johann Kaspar Schmidt explica isso melhor.

Há seres que não passam de um punhado de músculo, silicone, água oxigenada, formol e botox, que têm certeza que escola se escreve com i. E há muitos deles, pois desde que o primeiro da linhagem, por assim dizer, fez sucesso os sem discernimento acreditaram que repetindo a receita também sairiam do anonimato. Fizeram isso desassisadamente, sem saber que é melhor ficar no anonimato do que cair no ridículo.

Há os que repetem felizes: “Tudo o que é perfeito a gente pega pelo braço, joga lá no meio, mete em cima, mete embaixo. Depois de nove meses você vê o resultado”. Como se fosse natural e alegre cantar o estupro. Não foi, não é e nunca será, mas tem gente que canta e acha bonito. Não pensa para cantar. Não pensa para nada.

Há os que votam naqueles programas de TV que encarceram pessoas que se deixam encarcerar (umas até brigam por isso) em uma casa, uma fazenda, uma ilha. Programas feitos com vistas a angariar audiência e dinheiro e de lambuja levam espíritos, impedindo, assim, que seus corpos e cérebros se exercitem para além do necessário.

Há os que propagam e banalizam a violência, impregnando tanto as pessoas a ponto de tirar delas o poder de indignar-se, que é justamente a força que poderia mudar o curso das coisas.

Não, isso não me agrada.. Não gosto de gente que não pensa. Sei que pensar dói. E não é daquelas dores que só doem no começo e depois acostuma-se. Pensar dói para sempre. Quanto mais pensamos mais nos afastamos da autoridade imposta pelos conceitos vazios. Quanta angústia em ver as presas das autoridades falsas, todas sem identidade e sem vontade de resgatá-la.

Quando pensamos tudo dentro de nós se mexe. Se a terra pensasse tremeria por dentro, devastando por fora. Às vezes até acho que ela, a Terra, pensa. Mas a gente, o homem, tem que pensar, tem que devastar, tem que provocar, sob pena de trilhar caminho que não é seu. O que, pensando bem, é impensável.

Setenta e cinco anos. Que idade linda para começar a escrever livros!

quarta-feira, 10 de março de 2010

Este era o texto do meu perfil quando eu tinha Orkut. Muita gente me pede para usar. Usem à vontade, mas, por favor, citem a fonte.

Gosto das palavras, tenho fascinação pelo efeito que causam e acho covardes os que as usam como pedras com essa intenção e estúpidos os que as recebem como quando não há intenção. Deixo as metáforas aos que não sabem ser claros. Uso-as não para envenenar nas entrelinhas, mas para colocar flores em dizeres aparentemente áridos. Deixo os dogmas aos engessados, incapazes de se modificar todo dia, que envelhecem sem jamais terem sido jovens. Deixo para a horda medíocre o eterno caminhar atrás do vazio, confiantes de que há ali algum conteúdo, às vezes nem isso a não ser o ir por ir. Não quero nada nebuloso. Gosto de gente transparente, mas não óbvia, que se pode enxergar sem jamais conhecer a profundidade que tem. Como lagos no fundo das minas que não tem vento em volta, olhamos para ele, sabemos que é lago e nos parece espelho, vemos o fundo, mas não sabemos quanto é necessário aprofundar-se para chegar lá ou sequer se podemos. Calúnia? Sim do Botticelli. É lindo ver a verdade nua e o juiz asno. Nudez? Sim da Vênus, também dele. É aquela nudez desconcertante, intangível, a expressão no rosto nos hipnotiza e não queremos olhar mais nada, por ali já se vê tudo. Sou alegre, às vezes triste e meu poema faço com movimentos. Gosto do bom gosto, gosto do bom senso, gosto dos bons modos e estranho que cantem que não gostam. Nem toda unanimidade é burra. É impossível não concordar unanimemente com o belo. A dialética é um sofisma. Irrito-me com a insistência em querer me convencer que é possível que coisas qualitativamente diferentes, ainda que quantitativamente iguais possam virar uma terceira una. O Georg Wilhelm Friedrich Hegel é estranho, o Karl Popper também, mas pelo menos o segundo concorda comigo. Penso logo me engano, minhas verdades podem mudar todo dia, meus valores não.
Quero o melhor do mundo, quero o melhor da vida. Ser feliz é importante sim.
Tenho um tesouro. Feito, esperado, tido e criado com amor. Morreria por ele.
Às vezes um oceano me afasta do quero, às vezes o que quero me afasta do que quero, às vezes não quero, apenas para poder dormir com o sorriso dos que se deitam acreditando que a vida é cor de rosa. Sigo em frente, aconteça o que acontecer. Passo sem ver os vigias que catam a poesia que entorno no chão. Te encontro pela vida. Te deixo com Chico Buarque. Eis aí alguém com quem se estar é mais que bom. As almas elevadas se modificam toda vez que prestam atenção aos seus versos.

“Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a de um jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto, quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto , pra seu grande espanto, conviou-a pra rodar
E então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar
E, cheios de ternura e graça, foram para a praça e começaram a se abraçar
E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felicidade que toda cidade se iluminou
E foram tantos beijos loucos, tantos gritos roucos como não se ouvia mais
Que o mundo compreendeu
E o di amanheceu em paz.”